Tenho procurado abastecer-me de forças. Ultimamente tento encontra-la nas minúsculas coisas: No nascer do sol, na pequenina flor que balança no gramado com o vento, nos olhos das pessoas que me cercam.
Este, definitivamente, tem sido um ano difícil. A atual situação do país nos afeta diretamente e ficamos sem saber o que fazer. Há quase dez meses um dos meus melhores amigos dorme o sono involuntário de um coma profundo e eu lamento muito isso. Do fundo do meu coração eu lamento. Vou vê-lo sempre na esperança de que acorde, de que retorne ao nosso convívio de alguma forma, de alguma maneira que seja possível. Leio artigos científicos à procura de algo novo que possa ser a solução para trazê-lo de volta, mas temo que não exista ainda. Resta-nos a espera, a descabida e revoltante espera. Esperamos por algo que não sabemos quando virá. Meu parceiro de negócios, de arte, irmão que escolhi na vida... O amigo mais fiel que tive em toda a minha trajetória. Um cara que realmente se importa e sabe o verdadeiro valor da amizade.
Tenho me sentido estranho ultimamente. Tenho levado muitas rasteiras da vida e elas cortam minha alma de maneira muito dolorida. Estou lutando para não desacreditar desse mundo feito de tantas belezas, mas de tantas e tantas injustiças. Estou certo de que não mereço nenhuma das situações que estou tendo que encarar. Há tanta coisa errada acontecendo e me pergunto por que estou pagando um preço tão alto.
Quando me volto para aquilo que amo fazer, deparo-me com uma situação alarmante: Em nosso ofício pouquíssimos tem a real noção de a que servem, para que vem e vão. É, deveras muito triste a situação. Poucos entendem o seu lugar na obra e onde devem trabalhar, afim de que contribuam de maneira minimamente coerente deixando que cada um contribua com o seu trabalho, com o que tem para oferecer para a obra. É sempre tão cheio de desrespeitos, de atitudes relapsas, quando não desonestas e completamente descabidas. Percebo que alguns tratam seu ofício como se estivessem na casa da mãe Joana. Nenhum respeito, nenhum comprometimento, nenhum entendimento profundo sobre aquilo que fazem, o que torna o desafio ainda maior. Talvez esse tenha sido o ano que mais desisti. Desisti de mim, desisti do ofício, desisti da própria vida várias vezes... E retomei como quem insiste em montar no mesmo cavalo que o derrubou.
À noite, por vezes, observo minha mulher dormindo e choro. Choro por ver que ainda não consegui lhe dar o que gostaria de ter dado... Choro porque sinto que falhei, que não consegui ainda que, até aqui, todo o meu esforço não deu em nada. Ainda não pude lhe proporcionar uma vida um pouco mais equilibrada, um pouco mais tranquila, minimamente tranquila, sem grandes preocupações com o básico. Todos os dias, para o mínimo, o esforço é enorme. Porém, diante do pouco que conquistamos, tenho até medo de parecer egoísta de minha parte um sentimento assim, já que muitos - espalhados pelo mundo - não tem metade do que temos hoje. Entretanto, não posso evitar a dor que sinto diante de tantas coisas difíceis na nossa trajetória.
Hoje estou devastado e fiz uma prece a Deus pedindo o toque de suas mãos sobre minha vida. Poucas vezes peço por mim. Normalmente peço pelo mundo, pelos próximos e pelos não tão próximos assim. Mas hoje o pedido foi por mim. Que Ele me dê tranquilidade e sabedoria suficientes para as escolhas que tenho que fazer e que me faça sentir, em algum momento, que todo esse esforço valeu a pena.
Agora tudo que preciso é apenas da sua força, do seu toque em meu coração para que eu possa continuar a caminhada para a qual já dediquei mais da metade da minha vida.
Ajuda-me, Pai... Necessitado estou. Traz o brilho de volta para os meus olhos, porque não tenho sentido reluzir a satisfação de olhar para algo e me sentir realmente feliz. Necessito da tua ajuda, da tua força, da tua salvação.
Assim espero que aconteça e entrego ao acaso a chance de mudar um pouco essa história que tanto aflige o meu coração.
Meu coração triste, meu coração ermo, que se emociona dolorido com as canções que tem ouvido nessa vida e que não sabemos, sequer, a razão.
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