CAPÍTULO I - QUESTIONAR
O questionamento é, sem dúvidas, o primeiro grande passo para encontrarmos as respostas para as nossas perguntas ou, quem sabe, para gerar outras questões. A essência da evolução do ser humano como indivíduo está no questionamento que faz sobre si, sobre o outro, sobre a vida ou sobre a "totalidade" do universo.
Como artista, antes de querer encontrar "soluções", eu procuro pelas dúvidas, pelas questões que atormentam meu ser sobre as coisas do homem e do universo. Afinal de contas, a dúvida sempre é mais interessante que a solução. Nenhuma solução é única e muito menos é o fator determinante, preciso, exato e infalível para qualquer situação. Tenho me perguntado, há muito, acerca da importância e significado da vida na Terra diante dos argumentos e regras pré-estabelecidos em que estão conjugadas as nossas vidas. E ao pensar sobre o assunto no presente, no passado ou no futuro, de fato, unicamente me deprimo. O senso de felicidade absoluta, a qual achamos, muitas vezes, ser a plenitude da vida, nunca poderá ser alcançada. Exceto em momento simples e passageiros. Pelo simples fato de que a felicidade é efêmera; é veementemente um "estado de espírito". O estado de felicidade se dá pela concretização de algo que esteve outrora sobre a mira dos nossos anseios. Quando conquistamos esse "algo" que perseguimos, ficamos felizes; pelo simples motivo de que realizamos aquilo pelo qual nos dedicamos, sonhamos e trabalhamos por determinado tempo de nossas vidas. No entanto, vale dizer que vive o homem de pequenas "vontades" e objetivos e que são essas "vontades" e objetivos que o estimulam a continuar sonhando, trabalhando e dedicando determinado tempo de sua vida. Conquistado o objetivo, morre então a vontade e, consigo, também o sonho, visto que não é mais sonho e sim realidade. Com isso, o trabalho para aquilo descansa e torna-se o homem então "realizado". Mas, como de praxe, vale a pergunta: Como viverá este indivíduo de agora em diante, já que foi realizado seu desejo, já que conquistou o seu objetivo? A felicidade da conquista é momentânea e, com o passar dos dias, torna-se-á, de todo, corriqueira, cessando assim a euforia da felicidade e levando o homem novamente ao olhar comum. O fato é que necessitará o homem de uma nova vontade que se torne objetivo para que sua vida continue tendo sentido e para que tenha ele um motivo concreto para estar no universo, nesta vida, como ser e indivíduo; e para que sua existência, de fato, seja por ele observada como necessária e importante. Se analisarmos friamente a lógica de um suicida, veremos que, de fato, o que o leva a cometer o ato de retirar-se da vida é a perda total de sentido da sua própria vida. Ora, este indivíduo certamente perdeu a vontade de viver e se a perdeu é porque não tinha mais qualquer objetivo. A insatisfação com sua condição na vida é que o fez dizer "não" a sua permanência no universo. Ou seja: Somos movidos e motivados por vontades e objetivos porque temos a necessidade disso para que não achemos a vida sem sentido. Mas questiono-me ainda e no entanto, sobre o indivíduo que passa pela vida e que, cujas vontades e objetivos, atrelam-se unicamente à questão financeira e patrimonial. Supondo que este indivíduo consiga tudo o que queira em termos patrimoniais, de modo que tudo que lhe seja desejado seja imediato e de possível aquisição... Como estará este homem ao perceber que todos os seus "desejos" já foram saciados? Certamente perderá o desejo da vida, visto que cessarão as suas vontades em algum momento. Aí entra um grande ciclo, visto que, ao cessarem as vontade deste homem, preocupar-se-á ele com a vontade dos filhos. Vontade de que seu filho seja, como ele, "bem sucedido" - o que não passa de uma mera "transposição de objetivos" que apenas o fará tentar "reviver" sua própria história na vida de outro indivíduo. Todavia, o que fez, de fato, este homem durante a vida, senão olhar para o seu próprio umbigo? E o que deu este homem como contribuição para a sociedade? Não como caridade, mas o que fez ele pela humanidade para não ser, de fato, totalmente dispensável e indiferente à vida dos demais? Qual a importância de um chefe de uma multinacional, ou de uma empresa tecnológica, na sua vida, longe dos produtos por ele produzidos e por você consumidos? Nenhuma! Não faz diferença! E eis aí a chave da questão: Não faz este homem diferença alguma porque, de fato, alguns deles nada fazem de concreta importância social para a humanidade (seja aplicando seus recursos financeiros em projetos que beneficiem determinado grupo, seja ajudando a modificar uma triste realidade social em seu próprio mundo, como a pobreza, por exemplo.) - no mais profundo âmago da palavra "humanidade", ele não fará diferença se não interferir positivamente ajudando a modificar o mundo de alguma forma. Hoje, quase que na totalidade, as pessoas não se preocupam mais umas com as outras (com raríssimas excessões). E enganam-se sobre sua fútil e fértil "felicidade", que acha-se quase que totalmente atrelada à realização de objetivos meramente consumistas - o que, por vezes, torna-se até patológico. Creio que seja preciso que a humanidade acorde em algum momento para o que realmente é importante na vida - que está muito longe do acúmulo de riquezas ou lançamento de novas tecnologias inteiramente voltadas para o consumo.
Diante da trajetória pela qual nos guiamos, tudo indica que, num futuro breve, o sistema em que vivemos - e ao qual somos irremediavelmente obrigados a viver - esfacelará. Creio que, inclusive, voltaremos ao princípio da história do comércio. Quando tudo que se desejava adquirir, adquiria-se por meio do escambo. E, entrando mais profundamente nessa questão, como mera opinião, suponho que nunca devêssemos ter saído deste modo de comercialização. Visto que isto é o que está mais próximo da única certeza lógica sobre o que realmente vale a pena na vida: O outro e a troca.
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