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Blog Dois Pernods

Foto do escritorOscar Calixto

Mais um Tijolo na Parede



"Há mais artistas e pessoas aprisionados dentro de sua própria liberdade do que tentando livrar-se de uma prisão." - Disse isso recentemente num desses ensaios a dois atores com quem trabalho atualmente.

Este pensamento me ocorreu, e depois que o digeri, cada vez mais, na vida ou na arte, tenho certeza dessa assertiva que, em um dado momento, deixei escapar da minha boca.

Mas a coisa fluiu assim... Naturalmente. Obviamente ela me fez também pensar sobre isso de maneira mais aprofundada, pouco tempo depois. Avaliei que estava ligada a outros pensamentos meus que caminham no mesmo sentido, a cerca do meu ofício de ator. Mas então "como entender a liberdade no sentido integral?" O que é liberdade para você? E para mim? Um atista deve conhecer seus limiares... E as pessoas "normais" idem. Para cada um de nós ela certamente estará num lugar diferente. Haja visto, o que é liberdade para um, pode ser a verdadeira prisão para outro.

A liberdade para um presidiário provavelmente não tem o mesmo sentido que para uma pessoa que está fisicamente livre. Compreender que a liberdade assume condições irrevogáveis para cada indivíduo ou grupo é o que realmente seria o ideal. E o problema está exatamente aí: Como ser livre num mundo com tantas prisões? Porque independente de onde for, em qualquer coisa mínima que pareça, você pode estar aprisionado.

Para ir mais longe, creio, é preciso também compreender quais são exatamente as prisões dos nossos dias, do nosso tempo, da nossa arte ou do nosso ofício. Porque elas também mudam no decorrer da história. Regras podem ser prisões, mas nem toda prisão é regra e nem toda regra é prisão. Onde então estamos aprisionados quando "exportamos" as nossas ideias na analogia dos nossos pensamentos ou sobre aquilo que acreditamos? Onde então estamos aprisionados em nossas ações no modo? Onde então estamos aprisionados quando dizemos como determinada coisa deve ser feita? É preiso entender que não assumir os riscos da compra disso, também pode ser prisão.

A maior genialidade do mundo está na ousadia de experimentar e transcender o desconhecido, está na liberdade de vasculhar aquilo que não foi mexido, ou que ninguém quis mexer porque "não se deve investigar" ou porque "não é assim que se faz ou que manda a regra".

Quando escuto alguém dizer que o mundo está "emburrecendo" confesso que concordo. Mas, antes disso, acho mais próprio dizer que ele está "se acomodando" ao mais fácil, prático e óbvio. Isso é tão ruim para as pessoas, quanto para a arte, para o artista ou para a própria vida.

O sentido de "ser livre" está em "permitir-se algo ou a alguma coisa". Contudo, para permitir-se, é preciso que haja a libertação do indivíduo de tudo aquilo que lhe impede. Aos humanos foi dada a capacidade de escolha e, dentro disso, não consigo entender como que, ao invés de nos libertar-mos, cada vez mais nos aprisionamos.

"Ser ou não ser", como já disse, talvez não seja mais a maior questão de todos os tempos. Embora ache, ainda assim, uma grande questão. Entretanto, sigo verificando que, maior que ela, no sentido dos dias atuais, tem sido o "Ter ou não ter".

Isso, simplesmente porque amamos e corremos todos os dias de nossas vidas atrás dessa jaula nefasta que determina os valores e que diz o que você pode ou não pode. Mas nada do que se possa ter em vida no sentido desse poder material poderá conceder a verdadeira liberdade que qualquer um de nós verdadeiramente precisamos. Haja visto, já vi muito rico "livre" para ir e vir, para ter e comprar o que quiser, mas, por outro lado, completamente aprisionado na ideia de que felicidade ou liberdade é aquilo que pode proporcionar com o que ele guarda no banco, que tem na carteira, conta nos dedos ou que leva nas mãos.

Precisamos acordar para o verdadeiro sentido de "ser livre". Precisamos ter coragem para romper os muros e não nos tornarmos simplesmente "mais um tijolo na parede". Porque é exatamente isso que nos transforma em nossos próprios carrascos e que nos condena a criarmos e a vivermos, dia a dia, a nossa própria escravidão.

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